
Talvez esse assunto, “bebês reborn”, soe distante para os ouvintes da Rádio Simpatia, então, uma breve explicação: bebês reborn são réplicas muito, muito realistas de bebês humanos. As dobrinhas e a textura da pele, os cabelos, tamanho e peso, tudo muito similar àqueles seres humanos que mães de verdade carregaram em seus ventres por nove meses.
Eu também não conhecia essa moda, porque, como a maioria dos brasileiros, sou um adulto com boletos para pagar e um cidadão interessado em trabalhar por um Brasil melhor. Deixei meus brinquedos no ado, e, sabendo de mulheres e de casais que optam por emular a maternidade com bonecos de silicone, talvez pela covardia em encarar a aventura de serem pais – essa odisseia em tantos momentos inebriante, mas difícil como qualquer jornada nesse planeta belo e perigoso, eu paro para pensar.
Tenho amigos e amigas que optaram por não terem filhos. Merecem todo o meu respeito, e ainda mais: é um sinal de maturidade conhecer seus limites e compreender que dar a luz é um compromisso irrevogável. Nem todos querem esse contrato. No polo oposto há gente disposta a pagar 10 mil reais por esses bonecos hiper-realistas, e brincar de papai e mamãe. Há gente fazendo entre aspas, partos dos seus recém-nascidos de silicone e cabelos de pelo de carneiro e dispositivos que imitam os batimentos cardíacos e – uau! – eles fazem xixi! A mamãe de mentirinha pode até trocar fraldas.
Leio nos jornais que a Prefeitura de Curitiba lançou uma campanha de esclarecimento, alertando os usuários de transporte coletivo que mães de bebês de silicone não têm direito a banco prioritário nos ônibus. O que virá a seguir? Pais pedindo às prefeituras creches para seus brinquedos? Parece mesmo que há gente disposta a recusar-se à vida adulta, e cair numa infantilização que, opino, desvela uma desumanidade, uma negação do que há de mais bonito em nós – o nosso instinto por cuidar e fazer a vida florescer. É mesmo uma dádiva nosso amor pela vida, a biofilia, que vai além da nossa espécie: cuidamos das plantas e agradecemos suas flores, e cultivamos amizade e carinho com outros animais.
Papais e mamães de pequerruchos de silicone, eu vou emprestar o conselho do Nelson Rodrigues aos jovens: “Eu recomendo aos jovens, envelheçam depressa.” Recomendo aos meninos já com décadas e às adolescentes quarentonas que cresçam, e se a maternidade é um peso para o qual vocês não têm fibra, gastem seu dinheiro com as crianças de um orfanato – elas são de verdade.