
O Brasil é um dos principais exportadores de alimentos como soja e proteína animal do mundo. Hoje, o Brasil tem cerca de 5 milhões e 500 mil propriedades rurais em seis diferentes biomas: Amazônia, Pantanal, Pampa, Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado. Mata Atlântica e Cerrado são hotspots globais de biodiversidade, ou seja, biomas que foram extremamente desmatados e que são riquíssimos em espécies, o que torna sua conservação uma prioridade.
Juntas, essas propriedades rurais compreendem cerca de 605 milhões de hectares, ou 71% do território brasileiro.
No conjunto de todas as propriedades rurais brasileiras estão 53% da nossa vegetação nativa. As florestas nativas dessas propriedades retiram da atmosfera bilhões de toneladas de gás carbônico todos os anos e desempenham um papel vital na manutenção de uma ampla gama de serviços ecossistêmicos. Essas florestas privadas precisam ser manejadas adequadamente para garantir o sucesso de esforços globais no combate às mudanças climáticas.
Agricultores são biólogos especializados em cultivar alimentos. Não é um mero jogo de palavras. Nossos agricultores e seu vasto conhecimento ambiental são parceiros estratégicos para a conservação da biodiversidade brasileira e dos serviços ambientais que a natureza nos fornece. E são muitos serviços ambientais. Por exemplo, a água das nossas nascentes precisa das reservas de mata que existem nos nossos ranchos, sítios e fazendas, para fluir. Do mesmo modo, as matas ciliares de milhares de rios que atravessam propriedades rurais preservam suas margens e seus recursos hídricos.
Eu, colegas da Universidade Federal de Rondonópolis e da EFOC estamos estudando a fauna de fragmentos rurais de Mata Atlântica do norte do Rio Grande do Sul. Encontramos ali espécies ameaçadas, como o veado-campeiro e a onça-parda. Conservar as espécies da Mata Atlântica e dos demais biomas brasileiros e produzir alimentos não são objetivos excludentes. Ao contrário!
Cada vez mais, os mercados consumidores dos produtos agrícolas brasileiros, como a União Europeia, vão demandar alimentos que sejam produzidos sem desmatamentos e outros impactos. Agricultores, cientistas e ambientalistas são, portanto, parceiros, e não adversários.